Carlos Malta e Pife Muderno

Foto por Maria Mazzillo

Carlos Malta e Pife Muderno é uma banda de música popular instrumental brasileira, fundada em 1994, no Rio de Janeiro, pelo multinstrumentista Carlos Malta, com Andrea Ernest Dias, Marcos Suzano, Durval Pereira, Bernardo Aguiar e Fofo Black.

Logo após sua saída do grupo de Hermeto Pascoal, onde permaneceu por 12 anos, Malta quis realizar seu sonho de fundar uma banda de pífanos, numa formação minimalista e ritmicamente genial. Desenvolveu uma nova leitura para a performance das tradicionais bandas de pífano do nordeste, que hoje se multiplicam pelo Brasil, criando um som único.

Com exuberante criatividade, se uniu a músicos excepcionais, trouxe os elementos da tradição para conviverem com linguagens contemporâneas, do tribal ao urbano, e criou este grupo de uma imensa potência e brasilidade sonora, aclamado pelo público e pela crítica especializada dos quatro cantos do mundo por onde já passou. É popular e erudito, é universal, afro, indígena, baião, xaxado, frevo, ijexá, samba, reggae, jazz, música de câmara, pop, soul…

As possibilidades musicais do animadíssimo sexteto são infinitas, graças ao imenso talento dos artistas envolvidos há quase três décadas neste projeto, se mantendo ativo e atuante na música instrumental brasileira.

Com 3 álbuns lançados e agora com mais 4 álbuns a serem lançados em 2022, da obra Em Gil, o Pife Muderno já se apresentou nos mais importantes palcos e Festivais do Brasil e do mundo, como o MIMO, Montreal Jazz Festival, Forbidden City Concert Hall, em Pequim, e o lendário palco do Carnegie Hall em Nova Iorque, à convite do próprio Gilberto Gil, que assinava a curadoria do Festival Voices of America, em 2012.

PIFE MUDERNO: O LABORATÓRIO DE CARLOS MALTA – Por Guilherme Espir

Há um quarto de século – completados em 2020 – que Carlos Malta explora os ecos do pífano num de seus projetos mais longevos e ambiciosos: o Pife Muderno. Grupo formado com fortes raízes na cultura do pífano nordestino, o grupo se mantém ativo e atuante como um dos maiores projetos da nossa música popular instrumental.

O quinteto formado por Carlos Malta (flauta/saxofone), Andrea Ernest Diass (flauta), Oscar Bolão (bateria/percussão), Marcos Suzano (pandeiro), Durval Pereira (zabumba) e Bernardo Aguiar (pandeiro) fez um show que impressionou não só pela configuração e pela dinâmica, mas também pelo rico blend que mescla o Jazz, ritmos tradicionais do cancioneiro popular e elementos da música contemporânea.

Com um repertório ousado que conseguiu dialogar com referências que caminham desde Gilberto Gil até Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, o sexteto mostrou um fino trato para trabalhar o balanço do groove sob uma ótica que enaltece os elementos regionais, sem passar nem perto do revisionismo.

Entre temas autorais e versões, a interação do grupo é talvez o principal pilar do som. Em dado momento, Durval e Bolão largaram seus respectivos instrumentos e fizeram um quarteto de pandeiros como se fossem uma sessão rítmica para a dupla de flautas de Carlos e Andrea.

O baterista Oscar bolão tirou um som absurdo de um kit minúsculo. Quando requisitado, ainda mostrou rara habilidade no triângulo e ainda gastou o couro do pandeiro com grande destreza. Durval Pereira se mostrou peça chave no contexto do som do grupo. É notável sua sensibilidade na zabumba, entretanto, sua percepção musical é que chama atenção, especialmente devido ao turbilhão de informações que é a cozinha do Pife Muderno.

A dupla Marcos Suzano e Bernardo Aguiar fizeram um trabalho muito interessante. Ao melhor estilo guitarras gêmeas, a dupla oferecia um contraponto aos grooves de batera de Oscar, respeitando o espaço da Zabumba, mas em plena sintonia com a dupla Carlos e Andrea.

Foi um show irretocável e que entre medleys surpreendentes deixou a plateia do SESC Consolação completamente perplexa em mais um dia de Instrumental SESC Brasil. Um dos grupos mais interessantes e entrosados que já assisti ao vivo, o Pife Muderno finalizou o set com “Pife de Prata”, nova composição do grupo em homenagem aos 25 anos de corre ininterrupto.

Ao final do espetáculo confesso que fiquei consternado, mesmo já tendo assistido o Carlos Malta em 3 oportunidades – uma delas ao lado do PRD Mais e outra com o projeto Duofel – mas dessa vez o negócio atingiu um novo patamar. Com um entrosamento quase telepático, Carlos toca com uma facilidade e uma liberdade exuberante.

Do alto de seus quase 60 anos o carioca mostra um ímpeto criativo fervoroso e que ao lado de um quinteto desse nível parece criar sem fazer nenhum esforço. O som é orgânico, brasileiro legítimo e enquanto o sexteto se divertia sob o palco, a plateia recebeu uma aula magna sobre referências históricas que são o elo entre o Jazz, a música indígena e o repertório da música popular brasileira.

Quando a última nota de “Pife de Prata” se dissipou, a única coisa que consegui pensar foi que se o grupo fez 25 anos e atingiu suas bodas de prata, meus ouvidos estão banhado a ouro depois de mais de 90 minutos de um som magistral.

Definir essa cozinha é difícil, porém, até mais complexo do que isso é prever o que o grupo fará sob o palco. Eles estão na ativa desde 1994 e enquanto Carlos seguir esculpindo o vento, nós aprendemos a reverenciar um instrumentista que é uma figura essencial para se compreender os rumos do groove nacional.

Foi uma honra maestro.

Por Guilherme Espir

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